A revista Veja publicou no seu portal, nesta terça-feira, 19, entrevista com o presidente do Sebrae, Carlos Melles, assinada por Larissa Quintino. O título é contundente e pontual: “Há mais propaganda de bancos que empréstimo real”, diz presidente do Sebrae. Para Carlos Melles, que comanda a entidade de apoio às micro e pequenas empresas, é necessário mais crédito de capital de giro para evitar que empresas desapareçam na crise.
A Veja afirma que as micro e pequenas empresas são a “base da economia brasileira” e “sentiram em primeiro instante o impacto econômico da pandemia causada pelo coronavírus e correm para tentar evitar consequências maiores, como o desmonte dos negócios. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 89% do setor sofre com queda no faturamento devido à pandemia. O órgão não trata sobre a necessidade de flexibilização ou não das medidas de distanciamento social, mas foca na tentativa de concessão de capital de giro para que as empresas mantenham a mínima saúde financeira e consigam atravessar a crise sem desaparecer.”
Na entrevista a VEJA, “o presidente da entidade, Carlos Melles, afirma que, mesmo com linhas de crédito que garantem parte dos recursos aos bancos, como o da lei que foi sancionada nesta terça-feira, 19, que define que 85% do empréstimo para micro e pequena empresa é garantido pela União e uma outra linha em que 80% é garantido pelo próprio Sebrae, não gera apetite de risco aos bancos. Com isso, o acesso a financiamento limitado dificulta a situação dos pequenos empresários.”
“Como a pandemia afeta a saúde dos pequenos negócios? Nós temos um exército produtivo no país, liderado por esses micro e pequenos empresários, que são a base da cadeia produtiva brasileira. Antes da crise, 50% desses negócios tinham a situação financeira equilibrada. Um quarto estava de equilibrado para bem, e outros 25% de equilibrado para ruim. A crise fez com que cerca de 89% das empresas diminuíssem o faturamento. Ou seja, afetou quase todo mundo. Um dos grandes problemas é que grande parte dos empregos do Brasil é gerada por micro e pequenas empresas. A tentativa é de manutenção desses empregos mesmo com toda a paralisia gerada pela crise.”
“Qual é o maior problema enfrentado pelos pequenos empresários atualmente? O que tem faltado muito – e que já era escasso antes da pandemia – é o crédito, especialmente o de capital de giro. A parte tributária foi ajustada, com a prorrogação de impostos federais por seis meses, há renegociação de pagamento com fornecedores e também de aluguel, mas falta capital de giro. Esse quesito, que é complicado para todos nós, afeta especialmente empresas com faturamento de 80 mil reais a 360 mil reais. Cerca de 80% das companhias que buscam crédito não têm acesso. O conjunto de medidas trabalhistas do governo, com a possibilidade de corte de jornada, suspensão de contrato, antecipação de férias e feriados, ajudou. Renegociação de contratos com bancos e de contratos com fornecedores, também. Mas é preciso dinheiro para esse capital de giro, para que o empresário consiga tocar o seu negócio.”
“CONTINUA APÓS PUBLICIDADE – O que é preciso fazer para esse crédito chegar? O momento com a crise não é bom. Ainda que o sistema financeiro tenha boa vontade, ele tem aversão ao risco. Há uma linha de crédito, o Fundo de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Fampe), que tem garantia de 80% pelo Sebrae. No entanto, esses 20% que ficam de fora dificultam muito o acesso. A micro e pequena empresa que tem outras garantias para dar tem tido acesso ao crédito e com taxas baixas, inclusive. Há uma outra linha, o Pronampe [sancionada nesta terça-feira pelo presidente Jair Bolsonaro] com garantia de 85%. Em um momento de crise, a garantia precisaria ser de 100%, porque 80% não basta. Acho que mais uns 15, 20 dias, um mês, precisaremos rever com o Tesouro essas garantias do risco da operação.” Leia aqui no site propostas da Conampe entregues à equipe econômica para que o crédito chegue efetivamente as microempresas.
“Além da acessibilidade, o custo do crédito é um problema? Nós temos 122 linhas cadastradas, de crédito para micro e pequena empresa. Existe um cardápio enorme com taxas que saem de 1%. Arriscaria a dizer que a taxa de juros não é o limitante nessa crise. A limitação é mesmo o acesso ao crédito. Estamos buscando formas para que essa acessibilidade fique mais palatável aos bancos, como crédito orientado e também o Sebrae se colocando como correspondente, para que a empresa não vá sozinha até o banco, e sim junto com o Sebrae para mostrar que há um plano para esse recurso. Tornar esse crédito acessível é uma preocupação do Ministério da Economia, do Banco Central e do Sebrae. O universo é tão grande que não interessa muito aos grandes bancos esse negócio de micro e pequena empresa. Às vezes, há mais volume de propaganda que empréstimo real.”
“Há alguma outra forma, além da garantia dada por fundos e pelo governo, para fazer esse dinheiro chegar? Nós estamos estudando com as empresas de maquininhas uma forma de garantia do que for empresado. Está em estudo algo como o crédito consignado [desconto feito direto na folha de pagamento para trabalhadores formais e aposentados do INSS]. Há um mecanismo na maquininha que pode fazer um desconto após cada venda, e essa seria uma forma de dar mais segurança para quem empresta, porque é possível haver o pagamento após cada compra.”
“As medidas de distanciamento social dificultaram a continuidade de funcionamento de muitos pequenos negócios. Outros, para continuarem a trabalhar, passaram do dia para a noite a usar tecnologias para seguir vendendo ou prestando serviço. Essa digitalização será o grande legado da pandemia? Sem sombra de dúvida. O brasileiro, graças a Deus, tem uma capacidade muito grande de se reinventar, e é isso que está sendo feito na crise. Há alguns setores que dependem de atendimento presencial, como salões de beleza e turismo. O vestuário, que depende menos, já está usando ferramentas digitais para conversar com clientes e tentar vender. O mesmo vale para alimentação, com o delivery. Outro legado importante é a capacidade de atender bem o cliente. As vendas por canais digitais democratizam a oportunidade, e quem atender melhor o cliente tem mais oportunidades.”
Aqui a entrevista no site da Veja.
O presidente da Conampe, Ercílio Santinoni, pioneiro na formação do movimento nacional de defesa da micro e pequena empresa, desde da década de 1980, têm procurado sensibilizar a equipe da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), comandada por Carlos Da Costa, da importância de quebrar o círculo vicioso em impede as microempresas de conseguir crédito no sistema financeiro tradicional.
A primeira barreira são as linhas de crédito com critério fora da realidade das microempresas. Sem atender as reais necessidades das empresas, de acordo com as suas particularidades e dificuldades cotidianas, elas continuarão a margem dos créditos, especialmente para capital de giro, e, neste momento, para sobreviverem à pandemia.
Além disto, Ercílio Santinoni defende que os bancos sejam orientados para atender as microempresas e os gerentes de contas tenham pontuação e motivação para atender e socorrer as microempresas.
Nos últimos dois dias muitos veículos de comunicação, em todos os meios, televisão, impressos e digitais, apresentaram entrevistas, números e reportagens em que fica comprovado que os empresários e empresárias da microempresa brasileira não têm conseguido o crédito que tanto precisam neste momento.
Micro e pequenas empresas, quem somos: As micro e pequenas empresas são 99,2% das empresas brasileiras, geram 27% do PIB (mais do que agricultura) e mantinham, antes da crise, 52,2% dos empregos com carteira assinada, os empregos formais.
Conampe: imprensa@conampe.org.br
Diniz Neto (44) 9 9122 8715