Uma empresa pode ser tão grande quanto os sonhos de seu fundador, e o momento vivido pelo Paraná é propício para novas iniciativas. Essa foi a mensagem que transmitiram três dos mais bem-sucedidos empresários paranaenses em encontro em Curitiba, na semana passada. Miguel Krigsner, fundador do Grupo Boticário; Wilson de Lara, membro do conselho administrativo da ALL; e Wolney Betiol, cofundador da Bematech, comentaram suas trajetórias profissionais durante o bate-bapo “De Empreendedor para Empreendedor”. O evento foi promovido pela Endeador, ONG de apoio ao empreendedorismo, para marcar o início das atividades da organização no Paraná.
Para Krigsner, o Paraná passa por um momento especial para o surgimento de novos negócios. “Infelizmente, durante algum tempo, nós fomos afugentando qualquer empresário que quisesse se instalar no estado. De repente as oportunidades voltam a acontecer, e o Paraná tem grandes chances, pela qualidade de sua mão de obra, pela qualidade de sua gente extremamente trabalhadora, e acredito que grandes empresas poderão surgir”, disse. De Lara complementou destacando o perfil empreendedor do estado: “Nós temos exemplos claros de resultados de grandes empresas nascidas no Paraná e acho que a gente tem muitas oportunidades pela frente”.
O início
Para Miguel Krigsner, uma das características mais recorrentes no início de um empreendimento é a ausência de planejamento no longo prazo. “Existe o bom senso a te guiar. É uma força que vai conduzindo. Nesse momento, é importante se cercar de pessoas competentes. Depois chega o momento em que você percebe que, para a empresa continuar crescendo, é preciso se organizar”, disse. “Você não sabe até onde vai chegar”, ponderou Wolney Betiol, da Bematech. “Obviamente você sonha ser grande, mas o crescimento acaba sendo uma consequência.”
Importância do capital
“Se em 1990 a gente fizesse todas as contas que fazemos hoje, provavelmente não abriríamos o negócio”, revelou Wilson de Lara, da ALL. Krigsner ilustrou com o exemplo de O Boticário. “A empresa começou com US$ 3 mil. Todo o lucro foi sendo reaplicado no próprio negócio e, com a abertura para franquias, entrou o capital dos franqueados.”
Ética
Por vezes, as grandes empresas são vistas como mais propensas a ter desvios éticos em sua administração. Betiol, entretanto, acredita que uma grande empresa, mesmo ao enfrentar concorrência acirrada, é capaz de manter posturas morais. “Quando estávamos iniciando, falei para meu sócio que, se fosse para jogar o jogo do dedo no olho, não entraríamos.” Para de Lara, a “honestidade tributária” é também um balizador de condutas éticas. “Quando a empresa ainda é pequena, a tendência é ir para a informalidade fiscal, o que impede o desenvolvimento da companhia.”
Concorrência
Competir com as multinacionais se torna um dos maiores desafios para as empresas em ascensão. Administrador de uma empresa de tecnologia, Betiol contou que a solução foi estabelecer alianças com as gigantes do mercado. “Nossos primeiros clientes foram justamente HP, Unisys e IBM. Isso nos forçou a entender as exigências destas empresas e aprender com elas. Quando as grandes se perdem, a gente entra no vácuo.” Para enfrentar a concorrência internacional após a abertura da economia, nos anos 1990, a estratégia de O Boticário foi investir em embalagens e embarcar em joint ventures, contou Miguel Krigsner.
Sustentabilidade
As ações ambientalmente corretas deixaram de ser uma escolha e passaram a ser obrigação das empresas, segundo consenso dos empresários. “N’O Boticário, as ações começaram há 20 anos, com a criação da Fundação O Boticário de Proteção À Natureza. É uma necessidade que não é puramente empresarial, mas de todo cidadão”, disse Krigsner. Para Betiol, “a própria sociedade pressiona por atitudes sustentáveis nas empresas, mas o governo também tem o seu papel”.
Papel do Estado
Os empresários estão otimistas com os governos federal e estadual que começam em 2011. Mas recomendam uma agenda reformista para fomentar o ambiente de negócios no Brasil. “É preciso mexer no sistema fiscal brasileiro, renovar as estruturas trabalhistas e adiantar a reforma política”, apontou Wilson de Lara. “O governo precisa olhar para dentro de si e tornar a máquina pública mais eficiente. Com isso, cairá a necessidade de capital de custeio, então caem as taxas de juros e os investimentos produtivos são estimulados”, disse Betiol.